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PostHeaderIcon Álvaro Cunhal, a organização, a unidade e a luta dos trabalhadores!

Centenário de Álvaro Cunhal

Álvaro Cunhal, a organização, a unidade e a luta dos trabalhadores!

O movimento sindical consubstanciado na CGT-IN – verdadeiramente única central sindical dos trabalhadores portugueses – é o resultado do longo e acidentado processo de desenvolvimento do movimento operário, e do papel que Álvaro Cunhal e o Partido Comunista Português desempenharam.

A divulgação, o estudo e a discussão da obra de Álvaro Cunhal e o seu impacto na organização e luta do movimento operário e sindical português – e que no essencial mantém toda a validade – interessam aos trabalhadores e activistas sindicais que, intervêm na luta do presente contra a política de direita e pela futura sociedade liberta da exploração. Daí a publicação de alguns textos na nossa página.

A intervenção e contributos de Álvaro Cunhal, (particularmente a partir do inicio da década de quarenta do século passado) foram determinantes na definição da linha política do PCP para a organização e luta dos trabalhadores e nomeadamente para a frente sindical, intervenção e contributos, que se viriam a refletir de forma decisiva na construção e preservação, da natureza e características unitárias, de massas, de classe, e de independência do movimento sindical em Portugal.

Isso mesmo pode ser reconhecido nas dezenas de artigos, relatórios e outros trabalhos contidos, nomeadamente, na publicação (O PCP e a luta Sindical, edições Avante 2010).

A sua intervenção foi desde logo determinante na decisão para que os militantes comunistas interviessem nos sindicatos nacionais, transformando-os em instrumentos de luta da classe operária, em detrimento da proposta que, se confirmou irrealista, de constituição de sindicatos clandestinos, que tinham pouca expressão. Para Álvaro Cunhal os comunistas deviam estar onde estavam as massas.

A orientação para o trabalho dos comunistas nos chamados sindicatos nacionais era muito clara e objectiva: primeiro, fazer pressão sobre as direcções dos sindicatos nacionais para defenderem as reivindicações exigidas pelas massas operárias e para acompanharem as lutas reivindicativas da classe; segundo, entrar em massa para os sindicatos nacionais e aconselhar os trabalhadores a entrarem, com a finalidade de transformarem estes organismos defensores do patronato em organismos defensores dos interesses de classe; terceiro, eleger direcções de trabalhadores honestos que gozassem da confiança da classe, quaisquer que fossem as suas convicções políticas ou religiosas.

Estas orientações – que se tornaram numa constante da actividade de Álvaro Cunhal e do PCP até ao 25 de Abril de 1974 – vieram a confirmar-se acertadíssimas, na medida em que já em 1946 e não obstante o conjunto de dificuldades e manobras do fascismo, se verificava a eleição de cerca de 50 direcções da confiança dos trabalhadores. Sem aquelas orientações não teria sido possível criar a Intersindical em 1970.

O combate ao sectarismo e a defesa da unidade dos trabalhadores e do movimento sindical antes e depois do 25 de Abril de 1974, foi outra constante do pensamento e acção de Álvaro Cunhal, que pugnou sempre pela constituição de listas unitárias para as direcções sindicais e comissões de unidade nas fábricas, que integrassem comunistas, católicos e outros trabalhadores antifascistas disponíveis para lutar em defesa dos interesses dos trabalhadores.

Em 1976, intervindo de novo no quadro da luta pela unidade sindical e contra o divisionismo sindical, Álvaro Cunhal observa que a liberdade sindical que as forças reaccionárias e reformistas defendiam, a partir do combate à Intersindical, representaria se fosse aplicada, a cisão do movimento sindical e a subordinação de sindicatos ao controlo de organizações e forças estranhas às classes trabalhadoras.

Afirmava e defendia que nas condições portuguesas, o conteúdo fundamental da liberdade sindical era a liberdade de os trabalhadores decidirem livremente, com completa independência, da direcção, orientação e gestão dos sindicatos, acrescentando que os que defendiam a "liberdade sindical" e o "pluralismo sindical" o que pretendiam não era a liberdade da organização dos trabalhadores, a liberdade e independência das suas organizações de classe, mas a cisão do movimento sindical, a sua submissão a um controle partidário, governamental e mesmo patronal, como de resto se veio a confirmar com o paralelismo sindical.

O mesmo se pode dizer em relação à importância que simultaneamente deu às questões relacionadas com a organização dos trabalhadores como questão intrinsecamente ligada à luta de massas, que se reflectem por exemplo nestas linhas de orientação:

" A organização não é uma palavra mágica de que resultam efeitos pelo facto de muitas vezes se proferir. Se se diz mil vezes que é necessário organizar e nada se organiza, mais vale estar calado. A organização é um trabalho concreto e quotidiano. A propaganda da necessidade de organizar só tem valor, se é acompanhada dum trabalho de organização efectivo".

“Sem organização podem fazer-se "coisas". Mas não se podem lançar grandes lutas, dar-lhes continuidade, elevá-las a um nível superior".

A concepção que Álvaro Cunhal tinha da luta nas empresas em torno da acção reivindicativa e da luta de massas, e a importância que lhe atribuía, não se resumia à luta imediata pela melhoria das condições de vida e de trabalho, assumia-a como a primeira grande frente de luta da classe operária contra a exploração e pelo derrubamento da ditadura fascista.

Nas lutas que hoje travamos – embora num contexto laboral e político diferente – os contributos e obra de Álvaro Cunhal, para a luta sindical durante e depois do fascismo, são de grande actualidade, designadamente:

- A organização sindical e o seu reforço enquanto factor decisivo do desenvolvimento e sucesso da luta de massas;

- A luta de empresa e locais de trabalho enquanto principal campo de batalha contra a exploração e pela emancipação dos trabalhadores;

- A defesa dos sindicatos de classe, com profunda ligação e participação das massas;

- A autonomia e independência sindical em relação às forças do capital, incluindo aos governos que as defendem e representam;

- A unidade do movimento sindical unitário enquanto expressão da sua natureza de classe, autonomia e democracia interna.

 

Aveiro, 21 de Fevereiro, de 2013

Actualizado em (Domingo, 24 Fevereiro 2013 15:12)